https://revistapegn.globo.com/Franquias/noticia/2021/04/de-familia-de-judeus-que-sobreviveu-ao-holocausto-empresaria-fatura-r-600-mil-com-microfranquia-de-idiomas.html
A empresária Mariza Gottdank, 48, faturou R$ 600 mil em 2020 com a sua franquia de ensino de línguas estrangeiras, a Dank Idiomas. Para o aprendizado de inglês e espanhol aos públicos infantil, adolescente e adulto, ela vai na contramão do mercado. “Apostamos no devagar e sempre, na educação gradativa. Se você fala que a pessoa vai aprender em três meses e não acontece, ela fica frustrada e até desiste.”
Empreendedora com experiência como professora e coordenadora pedagógica, Gottdank começou a estudar inglês ainda na adolescência. Era o final da década de 1980 e, em meio às sucessivas crises econômicas que o Brasil atravessava, aprender uma nova língua não era algo tão acessível quanto nos dias atuais.
De família de judeus poloneses, que escaparam da Segunda Guerra Mundial durante o holocausto, ela tinha 13 anos e residia em Santos, no litoral paulista, quando o pai, Ihdy Herch Alfabet, faleceu. Para amenizar a situação difícil, seu tio, Luiz David Alfabet, ajudou a pagar um curso de idioma com bolsa na rede Cultura Inglesa.
Mais tarde, aos 18, ela foi trabalhar como ascensorista no jornal A Tribuna, da baixada santista. Para complementar a renda e pagar o curso superior de publicidade e propaganda, dava aulas de inglês à tarde e estudava no período noturno.
Como o dinheiro ficou curto, ela abandonou a publicidade para, mais tarde, fazer letras. “Eu sempre estive envolvida com idiomas. Meus avós vieram da guerra fugindo de nazistas, e o português é tão difícil quanto o polonês. Naquele tempo, quando comecei a estudar, inglês era uma coisa considerada de elite”, relembra Gottdank.
Em 2010, uma história curiosa trouxe o empreendedorismo para mais perto da sua realidade. Durante as aulas para tirar a carta na autoescola, Gottdank percebeu que tinha muita dificuldade em aprender por conta do seu instrutor, que tinha um perfil duro e impaciente. Ao fazer a troca de instrutor para outro com mais empatia e tranquilidade, finalmente obteve a licença e pôde dirigir.
O estresse passou, mas ficou a lição. Ela entendeu rapidamente que poderia levar aquilo para a sala de aula. "Uma das ideias que temos é o "affective filter" (filtro afetivo), que é aproximar os alunos aos colegas e entender como a realidade social pode impactar no processo de aprendizado", diz a empresária.
Um exemplo, explica, são as fotos ou lições onde são mostradas metrópoles de países desenvolvidos, como Nova York ou Londres, enquanto o estudante reside na periferia. "Às vezes, o aluno nunca viajou para fora e acaba ficando retraído por não se ver naquela condição social."
Com essa filosofia, ela criou a Dank Languages, uma consultoria voltada para o ensino em empresas. Mais tarde, em 2018, após as experiências como professora, coordenadora e empreendedora, entendeu que era o momento ideal para formatar o negócio em um novo modelo de franquias.
No entanto, nem mesmo a longa bagagem garantiu um início fácil. Após vender a primeira unidade com apenas um mês no mercado, a segunda só aconteceu passado seis meses. Segundo ela, os segredos foram muita insistência e o famoso boca a boca. “As pessoas ficam desconfiadas até o nosso produto ganhar credibilidade. Você pode fazer publicidade, mas a melhor propaganda é o resultado de quem já está na rede”, diz.
A Dank Idiomas possui três modelos de franquias: o mais básico, para aulas online, custa R$ 7,5 mil, e o investidor recebe treinamento operacional, pedagógico e de marketing; já a "escola móvel", no qual são disponibilizados monitores, microfones e livros, além de uma mala para o deslocamento dos equipamentos, sai pelo valor de R$ 10,5 mil; por fim, há unidade com espaço físico, que sai por R$ 20,5 mil, em ambientes a partir de 20 m², e conta com projeto arquitetônico incluso.
No último ano, a rede abriu 11 unidades, chegando ao total de 14 franquias. A quantidade de alunos por rede de ensino varia entre 35 a 78 - a partir do segundo modelo de negócio, com a contratação de mais professores. Antes da pandemia de Covid-19, as classes tinham cerca de oito estudantes. No online, a orientação é ter, no máximo, quatro pessoas por turma.
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